Roteiro pelas cidades históricas de Minas Gerais
Por Flavia Motta • Janeiro 23, 2011
Férias de verão sempre acabam na praia, certo? Nem sempre. Lembro de uma vez em que meu pai – aproveitando as festas de fim de ano com a família em Minas – elaborou um roteiro ‘cidades históricas‘ para a gente. Foi uma temporada sem mar, mas com lembranças que até hoje me vêm à mente.
A vantagem do circuito histórico de Minas é que as distâncias são curtas e permitem uma viagem sem grandes preocupações com o tédio das crianças dentro do carro. O roteiro básico passa por São João del Rei, Tiradentes, Congonhas, Mariana e Ouro Preto.
Tranquilidade em Tiradentes. Foto: herisalves.blog.uol.com.br
Tiradentes: boa comida e boas compras – Segunda cidade com mais restaurantes estrelados em Minas Gerais – perdendo apenas para Belo Horizonte -, Tiradentes tem na gastronomia um trunfo tão forte quanto seu artesanato. A grande bossa da cidade é curtir um clima de interior ao sabor de uma gastronomia global. Não à toa em agosto a cidade realiza seu famoso festival gastronômico. Afora a boa comida, Tiradentes tem duas atrações indispensáveis: suas construções históricas e seu artesanato. Entre os prédios que compõem a história da cidade, a Matriz de Santo Antônio é considerada um dos mais importantes, com direito a espetáculo de luz e som nos fins de semana. O Chafariz de São José também merece uma visita.
Passeio pelo passado na Maria Fumaça. Foto: quebarato.com.br
Já para quem está em busca do artesanato característico da região, o Largo das Forras é a dica, especialmente as ruas Ministro Gabriel Passos e Resende Costa. São muitos os ateliês que vendem tecidos, peças de ferro, móveis de madeira e mais. Há algum tempo dizia-se que o distrito vizinho de Bichinho tinha as mesmas peças a preços mais em conta. Hoje dizem que não vale a viagem.
Até São João del Rey de Maria Fumaça – A cerca de 15km de Tiradentes fica São João del Rey, cidade de Tancredo Neves. São 20 minutos de carro ou 35 de Maria Fumaça, numa viagem também pelo tempo. Uma day trip a São João tem que incluir visitas às igrejas de São Francisco de Assis, que tem missas com música barroca aos domingos; à Catedral de Nossa Senhora do Pilar, com as talhas douradas do altar; à igreja de Nossa Senhora do Carmo, com seu mix de fases do barroco, e à igreja de Nossa Senhoras das Mercês, construída sobre uma mina de ouro. Embora ofuscada pela vizinha Tiradentes, a cidade impressiona com um centro histórico bem conservado, iluminado por postes em forma de lampiões. No quesito compras, o forte de São João del Rey são as peças em estanho e esculturas e oratórios feitos em madeira de demolição.
O centro histórico de São João del Rey. Foto: interata.squarespace.com
Os profetas de Aleijadinho – Já Congonhas, a cidade dos clássicos profetas de Aleijadinho, fica a 1h30 de Tiradentes. É praticamente um desvio no caminho até Ouro Preto, que ainda tem uma hora pela frente. E dá um perfeito intervalo entre os dois trechos da viagem.
A grande atração de Congonhas é a Basílica do Senhor Bom Jesus de Matosinhos, que abriga as 12 estátuas dos profetas feitas em pedra-sabão. Dividida em três etapas, a visita à igreja começa do lado de fora, onde estão as seis Capelas dos Passos, que representam sete cenas da Paixão de Cristo com imagens esculpidas em cedro. A segunda etapa da visita é admirar os profetas, esculpidos entre 1800 e 1805 e que contam com vigilância 24h para protegê-los de vândalos. Encerre a visita à basílica entrando na igreja, com sua rica decoração rococó.
Um dos famosos profetas em pedra-sabão. Foto: Marcel Bazoti Pedro
A rica Ouro Preto – Estrela desse circuito histórico, Ouro Preto – com seus quase 70 mil habitantes – é tomada por um casario do século 18, algumas das igrejas mais importantes do barroco brasileiro e muitas repúblicas de estudantes. Para fugir da farra que os mais jovens fazem, evite a cidade no carnaval e no feriado de 12 de outubro, quando a famosa “Festa do Doze” atrai estudantes de diversas cidades para uma curta temporada de festa à enésima potência.
As igrejas são o grande hit de Ouro Preto, especialmente a de Nossa Senhora do Pilar, que detém o título de segunda mais rica do país graças aos 434 quilos de ouro que adornam sua nave e altar. Igualmente impressionante, mas por conta da ilusão de ótica que Mestre Athayde pintou em sua nave, é a igreja de São Francisco de Assis.
Nossa Senhora do Pilar: a mais rica de Ouro Preto. Foto: ngtraveler.co.uk
Igrejas com vista e museus – Já a igreja de Nossa Senhora do Rosário dos Pretos era a freqüentada pelos escravos e tem um projeto arquitetônico especial, em elipse. Para quem busca vistas privilegiadas da cidade, as dicas são as igrejas de Santa Ifigênia dos Pretos e de São Francisco de Paula. Além das igrejas, Ouro Preto tem museus que contam sua história. Os mais importantes são o Museu do Oratório, que exibe peças desde o século 18, e o da Inconfidência, que traz até traves que teriam sido da forca de Tiradentes. Uma das bases da mineração no Brasil, Ouro Preto também é cidade da famosa Mina do Chico Rei. Lá é possível caminhar por 1500 m de túneis onde escravos trabalharam até 1888 – ano da abolição.
Mariana e a Mina da Passagem – A 20 km de Ouro Preto, Mariana guarda uma das maiores minas de ouro do mundo aberta a visitas, a Mina da Passagem. A primeira capital de Minas Gerais pode ser visitada num passeio de Maria Fumaça desde Ouro Preto – o que confere charme extra à viagem.
A visita à mina começa numa descida de 120 m num carrinho sobre trilhos. Veem-se as cavidades de onde foram retiradas quase 35 toneladas de ouro, mas impressionante mesmo é o lago submerso formado pelo lençol freático.
Lago da Mina da Passagem. Foto: LeloRJ/Flickr
Para ficar de olho – Estacionar ou apenas circular de carro pelo centro histórico de algumas cidades – especialmente Ouro Preto – é uma tarefa chatinha e difícil. Assim, se você for de carro a alguma dessas cidades, informar-se sobre estacionamento no seu hotel é necessidade.
A entrada de algumas igrejas é paga e freqüentemente o visitante se depara com guias oferecendo companhia para um passeio. Segundo o guia Quatro Rodas, a média de preço é de R$ 20 por passeio com quatro pessoas, dando informações valiosas sobre os monumentos visitados. Você pode negociar o preço e deve procurar um guia credenciado, mas não abra mão do serviço – conhecer a história por trás do que se vê é fundamental para valorizar mais essa viagem.
Casario típico das cidades históricas. Foto: defender.org.br
Quando e de onde ir – Para quem curte festas católicas, passar feriados como a Semana Santa ou o Corpus Christi numa das cidades históricas de Minas pode ser um programão. Não são raras as missas especiais e procissões à moda antiga, com o trajeto iluminado apenas pelas velas dos fieis. Sem contar os tapetes coloridos de serragem.